terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Perspectivas na Abordagem da Educação Cristã - Edson Lopes



O ESTUDIOSO MARROU¹, EM SUAS REFLEXÕES sobre a história da educação na Antiguidade, demonstra que, desde as mais tenras sociedades, como mesopotâmica, chinesa, grega, dentre outras, as discussões educacionais têm sido um tema relevante, não sendo de admirar que muitos grandes filósofos e pensadores da História lhe tenham dedicado tempo e atenção².  Uma das razões para que isso ocorra é a crença de que a educação é um trunfo indispensável à humanidade, para o crescimento e desenvolvimento dos diversos países e construção dos "ideais da paz, da liberdade e da justiça social"³.

Apesar das palavras anteriores, na prática poucos demonstram a vital importância dela. Percebemos essa situação quando nos deparamos com a matriz curricular de alguns cursos de teologia das igrejas evangélicas. Alguns já não contemplam, como disciplina obrigatória, a educação cristã, que é imprescindível à formação pastoral, inclusive por tratar de assuntos relativos à educação de seus próprios filhos, dos filhos de seus fieis, da igreja e da sociedade local em que a igreja está inserida. 

Uma das razões para isso é que, à semelhança do que acontece com a educação em geral, há uma crença comum de que qualquer pessoa pode trabalhar com educação cristã. Devemos nos lembrar, quando assim agimos, do exemplo de João Calvino, que teria todas  as condições para ser o reitor da Academia que fundara; entretanto, delegou a Theodoro Beza a responsabilidade de fazer dela uma escola que viesse a servir a Deus, aos propósitos da Reforma Protestante e à sociedade de sua época. Em seu entendimento, Beza era mais capacitado para o exercício dessa função.

Se partirmos do princípio de que todos compreendem a educação cristã, não é necessário discuti-la e aperfeiçoa-la. Talvez seja essa uma das razões pelas quais nós, cristãos, pouco destacamos a educação cristã como instrumento de aperfeiçoamento e crescimento de nossas igrejas. O resultado é que são raríssimos os encontros e debates aprofundados, com a preocupação de prover, por exemplo, uma metodologia de ensino mais adequada às diversas comunidades cristãs brasileiras, o que leva ao decréscimo da participação de muitos nos estudos bíblicos semanais e na escola dominical.

Se isso tem ocorrido no interior da igreja local, pouco há para discutir acerca da participação cristã na sociedade. Novamente, retomamos o assunto a partir da Reforma Protestante. No estudo da Reforma, percebemos claramente que havia preocupação com as questões espirituais, mas também a preocupação de colaborar com as diversas facetas da sociedade.  Foi na Reforma que a educação, de fato, tornou-se pública. Lutero e Calvino, dentre outros reformadores, procuraram fundar escolas sustentadas pelo Estado e que propiciassem qualidade de ensino. Foi com essa perspectiva que os protestantes, no final do século XIX, fundaram escolas ao lado de suas igrejas.

Isso significa que a Igreja evangélica não pode entender que a educação cristã limite-se a te ligação estreita e direta tão somente com a escola dominical; essa, inclusive, parece ser a razão pela qual a maior parte da literatura sobre educação cristã é relacionada com a escola dominical⁴; a despeito de se tratar de textos relevantes, são perfeitamente indicados aos interessados nos estudos restritos à escola dominical.

É desnecessário enfatizar que a escola dominical tem sido o principal agente da educação nas mais diversas comunidades cristãs. Dada sua importância, é preciso que ela seja foco de investimentos estruturais e físicos. Além disso, as aulas e o material de apoio do processo ensino-aprendizado devem ser compatíveis com a maturidade intelectiva dos alunos, e deve-se estimular o aperfeiçoamento intelectual, pedagógico e espiritual do corpo de oficiais e professores e dos respectivos alunos.

Entretanto, a visão da educação cristã como restrita à escola dominical permitiu a Moran⁵ sustentar que, no cristianismo protestante, a "educação cristã" em geral é vista como a atividade pela qual os "ministros de uma igreja doutrinam as crianças para obedecerem a uma igreja local". Há certo exagero nas palavras de Moran, mas aí está algo sobre o que as comunidades cristãs deveriam refletir, uma vez que isso pode, em parte, explicar a práxis de muitos educadores cristãos que se voltam somente para o que acontece em suas respectivas comunidades religiosas.

É mister destacar que a educação cristã envolve muito mais do que conteúdos de aulas ou sermões. Ela está diretamente relacionada ao crescimento espiritual da igreja e ao ensino bíblico e missionário. Também está presente em aconselhamentos e orientações cristãs e é imprescindível nas relações igreja-sociedade.

Entendida dessa forma, há que se ressaltar quão importante é a educação cristã para a vida da igreja.



___________

¹ História da educação na Antiguidade, p. 4-14.
² T. H. GROOME, Educação religiosa cristã: compartilhando nosso caso e visão,p. 21.
³ L. A. CUNHA, Educação e desenvolvimento social no Brasil, p. 16. 
⁴ L. DORNAS, Socorro! Sou professor da escola dominical, p. 141-148.
⁵ Religious Body, p. 150.




segunda-feira, 12 de novembro de 2012

C. S. LEWIS sobre ir à igreja

Estava conversando com alguém sobre igreja (para variar!) e me lembrei de uma história envolvendo C. S. Lewis e "um velho santo de botas de borracha". Como não consegui achar essa história em nenhum dos livros do Lewis que possuo, decidi "googlar" e a achei no blog Mere Theology (não encontrado mais o domínio!).

Lewis frequentou a mesma igrejinha durante trinta anos. A experiência não tinha nada de extraordinária a cada semana. Na maior parte daqueles anos, Lewis não se importava muito com os sermões; ele até mesmo sentava-se atrás de um pilar para que o ministro não visse suas expressões faciais. Ele ía ao culto sem música porque não gostava dos hinos. E saía logo após a comunhão da Ceia, provavelmente por não gostar de se envolver nas conversas com os outros membros depois do culto. Mas a longa obediência numa mesma direção moldou a vida de Lewis de umm modo que nada mais poderia.

Uma vez perguntaram para Lewis: "É necessário frequentar um culto ou ser membro de uma comunidade cristã para um modo cristão de vida?"

Sua resposta foi a seguinte: "Esta é uma pergunta que eu não posso responder. Minha própria experiência é que logo que eu me tornei um cristão, cerca de quatorze anos atrás, eu pensava que poderia me virar sozinho, me retirando a meu quarto e lendo teologia, e não frequentava igrejas ou estudos bíblicos; e então mais tarde eu descobri que era o único modo de você agitar sua bandeira; e, naturalmente, eu descobri que isso significa ser um alvo. É extraordinário o quão inconveniente para sua família é você ter que acordar cedo para ir à Igreja. Não importa tanto se você tem que acordar cedo para qualquer outra coisa, mas se você acorda cedo para ir à Igreja é algo egoísta de sua parte e você irrita todos na casa. Se há qualquer coisa no ensinamento do Novo Testamento que é na natureza de mandamento, é que você é obrigado a participar do Sacramento e você não pode fazer isso sem ir à Igreja. Eu não gostava muito dos seus hinos, os quais eu considerava poemas de quinta categoria com música de sexta categoria. Mas à medida em que eu ia vi o grande mérito disso. Eu me vi diante de pessoas diferentes em aparência e educação, e meu conceito gradualmente começou a se desfazer. Eu percebi que os hinos (os quais era apenas músicas de sexta categoria!) eram, no entanto, cantados com tamanha devoção e entrega por um velho santo calçando botas de borracha no banco ao lado, e então você percebe que você não está apto sequer para limpar aquelas botas. Isso liberta de seu conceito solitário." (C. S. LEWIS, God in the Dock, pp. 61-2).



Adaptado de escrito do Sandro Baggio